Nossas eleições são
marcadas por campanha eleitorais milionárias, por um vergonhoso mecanismo de
compra de votos, pelo uso descarado da máquina pública e pelo loteamento da
administração, fruto da troca de cargos comissionados por apoio eleitoral. Uma
proposta política que não vise simplesmente ganhar as eleições deve, antes de
tudo, se propor a criar uma outra cultura política em Jaboatão.
Nosso atraso político se traduz em indicadores sociais
dramáticos. Hoje somos a 2ª pior cidade do Brasil em cobertura de saneamento
básico; a 7ª cidade mais perigosa para os jovens no Brasil; com 644.620 mil
habitantes temos apenas 1 biblioteca pública com apenas 13 mil livros, o que dá
1 livro para cada 50 habitantes; Cerca de 40% das escolas municipais
funcionam em prédios alugados (casas adaptadas a escolas); a
ausência de políticas ambientais faz o Rio Jaboatão ser classificado como sendo
um “rio morto” por seu elevado índice de poluição, as pedreiras devastam morros
inteiros, as fábricas envenenam nosso ar e contaminam nossos rios, os
loteadores clandestinos expandem desordenadamente a cidade lucrando com a venda
de terrenos em áreas de risco (“non aedificandi”); Jaboatão apresenta um
elevado índice de desigualdade social, contração de terras e de renda nas mãos
de poucos, corrupção generalizada, assustador índice de violência urbana e as
drogas tornaram-se aqui uma epidemia ignorada. O cidadão jaboatonense é
violentado em todos esses aspectos sem, contudo, dar um único grito. A
população agoniza emudecida.
Nossos políticos se nutrem desse estado de pobreza da
população e instalaram um sistema perverso de assistencialismo que tem
distorcido a função do vereador, ao ponto que na cabeça da população: “vereador
bom é o vereador que dá as coisas”, quando na verdade compete ao legislativo a
tarefa de fiscalizar o executivo e criar leis, garantindo que os bens e
serviços chegam ao cidadão por meio do estado. Nossos vereadores, no entanto,
preferem o personalismo e se gabam mais pelo número de ruas que calçaram “com recursos
próprios” que pela quantidade de projetos de lei que apresentaram durante o
mandato. Os políticos criaram uma cultura de compra de votos e assistencialismo
tal que, hoje, para se chegar ao poder é necessário gastar milhões nas
campanhas (sabe lá Deus de onde vem tanto dinheiro). Por algo em torno de R$ 20
ou R$ 30 o povo vende seu voto, e com isso, troca a educação de qualidade por
um cargo comissionado, 500 tijolos pelo direito a moradia, uma cesta básica por
um emprego, uma dentadura por uma saúde de qualidade, em suma: trocamos nossos
direitos por vantagens imediatas. O resultado disso é mais corrupção para
alimentar esse círculo vicioso.
Essa crítica não se dirige apenas as classes populares
de Jaboatão. O que dizer, pois, da classe média? Que permanece igualmente
emudecida diante dessa realidade e não tem se incomodo em conviver cercado pelo
caos? Onde está à classe media jaboatonense? Até quando irá permanecer
desejando ser cidadã recifense e negará sua cidade? De modo geral, falta ao
povo de Jaboatão o sentimento de pertencimento e de identificação cultural com
sua própria cidade. Hoje nos identificamos mais com o Recife que pelos
problemas de nossa rua.
Já as organizações sociais de nossa cidade padecem de
um outro mal: a cooptação. Onde estão em Jaboatão as associações de moradores
independentes? Os sindicatos desatrelados? Os conselhos fiscalizadores? Os
vereadores da oposição? Os grêmios estudantis reivindicatórios? Os movimentos
sociais independentes? Os grupos de cultura que criticam a realidade? Onde
estão os partidos políticos com “P” maiúsculo?
A verdade é que nossa pobreza política é também a
causa de nossa pobreza cultural e social. A falta de participação na vida
política de nossa cidade produz escolas sem qualidade, hospitais desumanizados,
meio ambiente degradado, trânsito caótico, transporte publico indigno e
desigualdades sociais. Sem sofrer pressão por parte da sociedade civil
organizada, a atual gestão faz o que bem entende com o nosso dinheiro. Como
disse Martin Luther King: “O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem
dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o
silêncio dos bons”. O que temos feito, pois, para mudar Jaboatão? Parece-me que
apenas pagar o IPTU e depois cruzar os braços e contentar-se em esbravejar
dizendo que político é tudo ladrão, infelizmente não contribui para mudar muita
coisa. Enquanto as pessoas honestas e comprometidas de Jaboatão permanecerem
distantes da política, os desonestos e os corruptos encontrarão na política em
caminho livre para prosseguirem. As pessoas “do bem” precisam hoje, ocupar o
espaço da política em nossa cidade, só assim restará cada vez menos lugar para
os políticos corruptos.
Parafraseando Paulo Freire, costumo dizer que Jaboatão não
é, Jaboatão está sendo, e da mesma forma que ele hoje está sendo ruim, poderá
amanhã vir a ser um Jaboatão Melhor.
Texto muito bom, reflexivo e esclarecedor da história política desse município que sempre esteve envolvido em falcatruas, uma câmara de vereadores rídula onde muitos nem se pronunciam e uma sociedade civil omissa pois não cobra dos órgão públicos constituídos.
ResponderExcluirTambém fala de que podemos mudar essa situação se os homens de bem dessa cidades, e não esses que estão há anos ocupando o poder. Devemos expulsar esses políticos corruptos da nossa cidade como foram expulsos os holandeses.
O silêncio dos bons...
ResponderExcluirÉ algo realmente para ser pensado. Talvez o processo de participação hoje tenha perdido seu espaço por causa da corrupção na política. As pessoas não acreditam mais nas mudanças e na possibilidade de transformação. Entregam seu voto a troco de nada, apenas para "ter o falso ganho" e sair se gabado que conseguiu um saco de cimento ou alguns tijolos...Enquanto isso, comunidades como Suvaco da Cobra, Vila Sotave, Mooeda de Bronze, entre outras, ficam marginalizadas das políticas públicas e da intervenção do Estado (enteda-se esse Estado também enquanto governo municipal)...
A candidatura de César nos remete ao novo, ao entendimento e a necessidade da mudança. Do fim dos que vivem muito bem com o dinheiro do povo enquanto por eles, nada se faz...
Parabéns César...Gostaria muito de ter sua coragem...
Iágrice, você enquanto professora da rede pública que encara todos os dias o desafio de educar nossas criança, mesmo em situações adversas, tem mais coragem e determinação que todos nós juntos.
ResponderExcluirNossa pré-candidatura representa,também, seu grito!
Um forte abraço!
César Ramos
Djalma, como você, acreditamos que é possível mudar, mas não cremos que a mudança virá da velha política de Jaboatão. Já dizia o provérbio: "Não se coloca vinho novo em odres velhos."
ResponderExcluirSejamos pois, a Nova Política em Jaboatão!
Abraços esperançosos.
César Ramos
César, em Jaboatão não existe oposição, Elias cooptou todos, quem sabe os PESOENTOS, expressão com todo respeito ao militantes do PSOL, mas é isto que representa seus militantes para estes políticos corruptos e da velha política.
ResponderExcluirA PESOENTA Heloisa Helena esta fazendo falta a politica nacional que também esta órfã de oposição.
Vamos lá César, vamos PESONHA estes políticos "certinhos" de Jaboatão.
Muito bom o texto, parabéns César. Realmente estamos vivendo um momento paradoxal. Muita gente bem intencionada gostaria de entrar na política, mas não encontra motivação pessoal (muito menos dos partidos), pois é tanta coisa errada que se aventurar neste meio para muitos não vale a pena. Com isso, resta o velho, os políticos não comprometidos... O problema é que hoje muita gente encara a política como profissão e os partidos se transformaram em empresas, buscam apenas lucro, poder... tanta gente boa em Jaboatão está surgindo, mas os partidos são tão burrinhos, não vão atrás dessas pessoas, preferem ficar na mesmice, achando que vão se sustentar a vida toda no poder com esse pensamento primitivo...
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