terça-feira, 27 de dezembro de 2011

“Existem escolas onde a criança tem que pular o esgoto a céu aberto para assistir aula” Gerson Vicente, Presidente do Núcleo Educacionista de Jaboatão.


O sonho por uma educação pública de qualidade para todos os brasileiros chegou de forma bastante intensa no coração e na mente de muitos jovens Jaboatonenses neste ano de 2011. Através da materialização deste sonho surgiu o Núcleo Educacionista de Jaboatão, formado na sua maioria por estudantes universitários. 

Este grupo não é ligado a partido político, (denominação religiosa) é laico e possui uma estrutura organizacional democrática. Entretanto, o nascimento deste movimento social não ocorreu por acaso e de forma desorganizada. A sua concepção está diretamente relacionada com a análise da conjuntura social e econômica do Brasil, principalmente do Nordeste, onde se vê com maior nitidez a triste relação entre uma educação com índices baixos do IDEB, pouco acesso das classes populares a cultura e a democracia a serviço do poder econômico. Um reflexo desta relação é a impossibilidade de termos um processo eleitoral eficaz com um número considerável de eleitores analfabetos e analfabetos funcionais, uma vez que a educação insatisfatória não permite escolhas conscientes e seguras. Desta forma, se o país conseguiu vencer o desafio de se tornar democrático, falta ao povo brasileiro vencer o maior desafio: o da educação. Sem uma educação de qualidade, a democracia perde toda a sua essência.
Além disso, existe uma forte desigualdade social entre as regiões brasileiras, reflexo do crescimento desigual da economia. Conforme apontam os indicadores sociais, dos cerca de 1.200 municípios relacionados pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica como os que mais merecem atenção das autoridades, 800 estão no Norte e no Nordeste.
A péssima qualidade da educação brasileira está diretamente relacionada à má administração dos recursos públicos e à desvalorização profissional dos docentes, cujos baixos salários não cobrem sequer as despesas pessoais. Em Jaboatão a situação ainda é pior. Para se ter uma ideia, 40% dos prédios onde ficam as escolas municipais são alugados. Os aluguéis, na sua maioria, estão por volta de R$ 7000,00 por mês. Muitos donos destes imóveis são políticos ou ex-políticos. Além disso, não existe nenhum projeto paralelo de incorporação destes imóveis ao patrimônio público municipal. Existem escolas onde a criança tem que pular o esgoto a céu aberto para assistir aula. Resumindo, a situação da educação no município está calamitosa.
  Para mudarmos esta situação é necessário, além de uma alocação de recursos de forma eficiente, eficaz e transparente, uma maior celeridade na melhoria das condições de trabalho dos profissionais da área de educação e sua qualificação. Não conseguiremos alcançar jamais a qualidade e a excelência do ensino sem dignificar esta profissão e sem o restabelecimento de sua função social.
  Desta forma, cabe às famílias, às universidades, às autoridades do setor e às comunidades desempenharem um papel proativo neste processo de reconstrução da educação pública brasileira. A função principal do Núcleo Educacionista é justamente conscientizar e expandir o número de classes trabalhadoras integrantes desta luta. Esta luta não é somente dos educadores, mas de toda a sociedade brasileira. Somente assim poderemos ter a certeza de que melhoramos a natureza da nossa democracia e que a desigualdade social, cujo berço muitas vezes está na escola de péssima qualidade, está sendo reduzida.
Os integrantes do Núcleo Educacionista estão participando de forma ativa dessa cruzada contra a ignorância que humilha, maltrata e ofende a vida de tantos jovens jaboatanenses das camadas populares. Participamos da Conferência Municipal Juventude e da Conferência Estadual da Juventude, onde contribuímos na elaboração de políticas públicas na área de educação e cultura voltadas para o jovem, protestamos contra a demora na conclusão da reforma do Cinema Samuel Campelo e estamos atualmente construindo uma biblioteca comunitária em um dos bairros mais pobres de Jaboatão.
Por tudo isso, acreditamos que em um país marcado por tanta desigualdade, atraso e perversidade, a luta pela melhoria da educação ganha uma dimensão social fortemente transformadora. Esta é a revolução possível.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Um 2012 repleto de realizações