Após Campos romper com Dilma,
ministério conclui processo que se arrastava há 2 anos e pede ao porto de PE
devolução de R$ 13,8 milhões
25 de outubro de 2013 | 2h 11
O novo ministro da Secretaria Especial
de Portos (SEP), Antônio Henrique Silveira, determinou um pente-fino em
contratos com o Porto de Suape, administrado pelo governo de Eduardo Campos
(PSB-PE). Ao mesmo tempo, a Presidência mandou Pernambuco devolver aos cofres federais
R$ 13,8 milhões repassados pela União ao complexo. O motivo alegado são
problemas constatados há mais de dois anos em obras no porto. As ações ocorrem
após o governador romper com a presidente Dilma Rousseff e formar aliança com
Marina Silva para as eleições de 2014.
O ministro pediu aos técnicos da pasta
um levantamento detalhado das operações com Suape, com a justificativa de se
informar a respeito, após ser alertado por sua equipe de que havia problemas
nas parcerias. O governo federal tem convênios que somam R$ 737,3 milhões com o
porto para diversas obras.
A cobrança enviada a Suape refere-se à
dragagem dos acessos ao Estaleiro Atlântico Sul, já encerrada. A Presidência
quer a restituição de R$ 13,8 milhões que, no seu entendimento, pagou a mais. A
SEP emitiu a notificação para o ressarcimento no dia 7 deste mês, cinco dias
após a Secretaria de Controle Interno da Presidência (Ciset) emitir uma nota
técnica a respeito. Segundo o ofício da SEP, Suape tem até 14 de novembro para
tomar medidas.
Contudo, desde 2011 a SEP vem sendo
informada pela Ciset de problemas na obra. Os serviços foram feitos pela Somar,
empresa do grupo holandês Van Oord, a partir de um termo de cooperação que
previa o repasse de R$ 89,5 milhões da União para Suape.
O órgão de controle da Presidência
concluiu em fevereiro de 2011 que, devido a divergências apuradas em
fiscalização da obra, o valor a ser custeado pela União seria menor (R$ 52,3
milhões), daí a necessidade de ressarcimento. O órgão de controle também
detectou à época indícios de sobrepreço na licitação para a dragagem e em outra
obra: construção de um acesso rodoferroviário a duas ilhas em Suape. "A
adoção das medidas pertinentes por parte da SEP poderá acarretar uma economia à
União de R$ 42 milhões", concluiu. No processo de rediscussão da dívida, o
valor a ser ressarcido caiu para R$ 13,8 milhões.
Providências. Desde 2011, o órgão da
Presidência cobra providências a respeito das constatações e registra a inércia
da SEP, que era comandada pelo então ministro Leônidas Cristino, ex-aliado de
Campos. Em 11 de julho de 2011, a pasta enviou a Suape uma guia de recolhimento
com vencimento 15 dias depois.
Mas, a pedido do porto, não levou a
cobrança adiante, argumentando que era necessário, primeiro, que sua equipe
analisasse a prestação de contas do projeto.
Em relatório de fevereiro de 2012, a
Ciset registra que, diante da falta de providências da SEP, denunciaria o caso
ao Tribunal de Contas da União (TCU). "Entende-se que foram concedidas à
SEP todas as oportunidades de manifestação e de contraditório quanto aos
problemas, além de ter sido dispensado tempo suficiente para que tais problemas
fossem solucionados", diz o documento.
Em junho de 2012, a SEP questionou
aspectos técnicos do relatório da Ciset e pleiteou a redução do valor a ser
restituído por Suape, de R$ 20,2 milhões para R$ 16,9 milhões, o que foi
admitido. Em nota ao Estado, o porto alega que o valor ser
"preventivamente" ressarcido é de R$ 13,8 milhões.
Em julho deste ano, o TCU enviou à
Secretaria Executiva da SEP ofício cobrando documentação que comprove o
ressarcimento por Suape e, em caso de não pagamento, as providências tomadas a
respeito. O tribunal requer a comprovação de que foi aberta tomada de contas
especial (TCE) para obter a devolução e apurar a responsabilidade por
"dano à administração pública federal", caso todas as medidas
administrativas tenham se esgotado.
Embora se trate de informação pública,
a SEP se negou a detalhar ao Estado quais foram as medidas tomadas para o
ressarcimento, bem como as datas de eventuais cobranças enviadas a Suape. Um
parecer da Ciset sobre o caso, concluído em 2 de outubro deste ano, subsidiou a
cobrança enviada à administração do porto. O relatório foi solicitado pelo
jornal, mas o órgão de controle não o apresentou.
Como o Estado revelou no dia 13, a
dragagem de outras áreas de Suape, contratada por R$ 275 milhões, é motivo de
disputa entre o Planalto e Pernambuco. As duas partes não se entendem sobre
quem pagará parte da conta à empresa.
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